quarta-feira, 2 de maio de 2007

Alguém sabe me dizer se o dia 02 de Maio é da terceira idade?
Não, nada contra, só queria mesmo saber.


Raramente eu saio de casa durante a tarde para ir em lugares longínquos, mesmo por que não tenho pra onde ir. Mas exclusivamente hoje tive muito o quê fazer. E muitas personagens bizarras alegraram o meu dia.

Fui dormir muito tarde, como de costume, por volta das 5 da manhã...peguei no sono meia hora depois...às 7 horas, já estava de pé para ir até a Vila Olímpia, local que nunca fui de ônibus...fui raras vezes em barzinhos, de carro com amigos dirigindo, e só. Mas, enfim, até então nada de tão surreal. A coisa começaria a esquentar depois do meio dia.

Fiz o que tinha que fazer, voltei para casa e almocei, já prevendo a segunda saga do dia: ir até o Hospital das Clínicas, também conhecido como Circo explícito dos Horrores, pegar uns remédios da minha tia.
Já no ponto de ônibus, sabendo que tinha acabado de perder um Anhangabaú, conclui que seriam uns 20 minutos de espera. Tempo suficiente para uma senhora simpática chegar junto à mim e proferir a seguinte frase:

-Essa juventude de hoje está perdida mesmo, né?

Na hora pensei "Céus, de onde será que ela me conhece? Será que já me viu num dos mega bafões que frequentemente dou?"

-Oi?, repeti totalmente sem entender
-Olha aquele casal ali do outro lado da rua - ela já disse segurando meu braço. É um absurdo! Um moço tão bonito, com uma menininha turrãozinha daquela. Não é possível!

Gente, que velha preconceituosa! Não tava acreditando no que ouvia. Do outro lado da rua havia um casal dentro do carro se beijando (nem mega se amassando eles tavam). A menina tinha cara de piriguete, e o homem, de bobão. A partir daí, foram 4 minutos de falas desordenadas, nas quais assimilei que o filho dela morava em Jundiaí e tinha visto uma pesquisa que falava que os homens brancos eram os mais procurados, por que sabiam fazer "aquilo" como ninguém (sim, ela disse aquilo).
Mas o céu abençoado enviou o ônibus da senhora rapidamente (que não era o mesmo que o meu, para total frustração da velha).
Não deu um minuto e chega outra senhora, com um lencinho amarrado na cabeça, cerca de 1 metro e meio, toda curvadinha:

-Ô fia, você conhece o moço que vende minduim e bala aí? - apontando para o canto do ponto de ônibus. Cê sabe onde ele mora?
-Eu não.
-Precisava tanto falar com ele. Que horas ele começa a trabalhar?
-Sei lá.

Mais dez minutos dela falando que tinha que encontrar o fulano, por que ...

Chega meu ônibus. Eu entro e dou de cara com quem? Kiefer Sutherland! JURO, o moço era a cara do Jack Bauer. Fiquei perplexa e ria sozinha. Durante os 57 minutos de trajeto no veículo.
Chegando ao hospital, aquela catástrofe. Filas desorganizadas, pessoas sem alguns membros de seu corpo, outros com máscaras, aquela paisagem agradável de fim de tarde. E não é que mais uma senhora se senta ao meu lado e começa a puxar assunto? Para ser atendida - minha senha era a R2479 -, precisaria aguardar uns 50 números, o que levou meia hora, na qual descobri que dona Yolanda tinha hipotireoidismo, problemas na paratireóide, falta de potássio, diabetes, pressão alta, colesterol, problema no coração, e há vinte anos, desde 1987, frequenta o Hospital das Clínicas todo santo mês para buscar seus remédinhos. Não reclama da vida, tem uma filha com os mesmos problemas glândulares e me alertou, pois posso desenvolver o mesmo quadro depois de qualquer idade, afinal de contas, é assim que as glândulas funcionam! Ou não!

Chega minha vez! Mais fila, e uma menina muito eufórica e inquieta mexe com todos, ao mesmo tempo que orienta os perdidos em meio aos dez guichês da fármacia laboratorial. Ela conta que vai todos os dias ao HC buscar remédios, pois esse é seu trabalho. Ela pertence a uma empresa que faz entrega de medicamentos. Ela não sabe ser fica na Fila C ou na Fila R, já que possui senhas para ambas.

Pego meu remédio e volto para casa, sem me despedir de Dona Yolanda. No ônibus uma senhora louca canta e fala aramaico com o cobrador, que a ignora. Andamos um pouco, outra mulher tem o dom de cair no corredor, quando o coletivo passa por uma lombada. O cobrador segura a risada, ao contrário da mulher louca, que gargalha.

Chego em casa, mal me acomodo no sofá, o telefone toca. É eu tio pedindo que eu levasse minha vó ao banco, para receber sei lá o quê. Chego lá, ela não quer ir; e ainda xinga meu tio pela petulância em tentar ajudá-la.

Morta, acabada, com as pernas doendo, volto para casa, e ainda tenho forças para escrever esse texto, enquanto espero meu pai chegar de viagem.

Saldo do dia positivo, apesar de não parecer. Acho essas histórias que descobrimos por acaso, casos de vida comuns, tão surpreendentes, que me pego realmente prestando atenção nas pessoas. Pouco falo. Percebi que tem gente que só quer ser ouvida.

Volto ao Hospital dia 29 de maio. Alguém se habilita?

3 comentários:

m. disse...

eu vou com vc. adoro essas coisas. e eu ri mto lendo esse texto. (a parte do jack bauer é genial). e eu tb tenho imã pra velhinhas petulantes e carentes, elas sempre gostam de desabafar comigo.

sério, foi uma das únicas risadas do meu dia. obrigada...

amo vc
=*

Anônimo disse...

Esse blog está fazendo bem pra vc! Tá muito legal, parabéns!

Alan de Faria disse...

hahahahaha... estou chorando de tanto rir... o problema é que não posso rir alto, pois estou na redação.....

ah, uma outra coisa: da próxima vez, utilize parênteses... o que é piringuete? E essas doenças que uma de suas amigas da terceira idade têm?

beijos
se cuida!

P.S: alguns convites para fazer para a senhorita para amanhã, sexta... convites bem bons! rs